na china longe

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

longe como daqui até a china

中人

este blog apareceu do desespero, da úlcera por vir, de condições de vida abastadas e absurdas

pra clarividências

e já não serve mais

let's give it another try

ahora allá

http://atlasatras.blogspot.com


cabrón

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sidarta

com raiva e com afeto
especialmente para a Bia


da grama limpa nem
digo, dos jardineiros contratados
a seiscentos reais por mês para dizer
com as mão ao mato que ele está
sujo, que precisa deixar de morrer e
ser podado sempre que num ameaço
crescer. as crianças devem viver em ambiente
saudável, apartadas de tudo que faça o
preconceito na classe parecer algo mais que
um decalque de qualquer outra coisa, vagamente
séria. o príncipe sidarta às dúzias protegido
dentro de casas, condomínios e de um colégio
que produz apenas crédito e conforto, solto
num vento de rasas palavras. do outro lado
da rua, encontramos o maior templo budista
da américa latina, forjado em mármore e
dólares de taiwan, para lembrarmo-nos sempre
que a fome do buda foi muda, sozinha e vã.
nem digo do assédio e de outros termos jurídicos.
nem digo do sorriso compulsório e da alegria
que colore as paredes dos seus prédios, seus estandes
de chá, como se nada, antes, tivesse passado
por lá, e o passado, sempre cambiante, pudesse ser
expulso, apagado, refeito, retalhado, demitido
a cada olhar que assustado encontra no lixo jogado
pedaços
do que um dia foi sino.
não digo da bruta beleza, não digo do belo
escondido, não desperdiço as letras para
avisar dos macacos e da revoada de pássaros
que não deixam ver as faxineiras à noite tendo
suas bolsas revistadas e roubadas à beira da raposo.



mas digo, e disso direi:
o dia faz calor e faz frio.
a estrada vai como vem.
as vozes tecem um fio:
quem padece da corda é o rei.



.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

errata

.
na verdade aos

dezesseis eu escrevia:


O banhista

Se água existisse
banhar-me-ia menos triste
Se água tivesse
banhar-me-ia com quem quisesse

Banhar-me-ia mundo afora
com a mesma nudez de outrora
banhar-me-ia na Bahia
banhar-me-ia na estratosfera
em toda a imensidão que
nos espera

Se água existisse
banhar-se-ia toda miss
Se água tivesse
banhar-se-ia quem bem entendesse

Banhar-se até que todo mal fuja pelo ralo
levando consigo os cabelos ralos
e a importância das células vitais

Banhar-se, banhar-se
até não poder mais



***



esse não era sobre o ruivo de shorts
mas eu lembro porque um amigo na época musicou
a gente ia tocar no festival da secretaria de cultura
se a adolescência não entrasse no caminho

.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

conceito de poesia aos 24 anos

depois do José Cabrera

não confie em ninguém
depois dos trinta they
say mas não publique
jamais até os vinte ou
vinte e dois sobram seis
anos talvez a não ser
que a citação seja "vinte
e sete" então sobram três
ou dois ou menos de um
mês pra escrever e publicar
com confiança um bom repertório
versos con tun den tes in
cisivos não faça versos ca
ninos a não ser que sejas
cazuza ou rimbaud corre o
risco de quedar muy bobo ou
menino esses versos de amor
feitos aos dezesseis quando você
tem ereções na aula de artes por
causa do rapaz ruivo que veio de
shorts e confunde a pica dura
com desejo suicida sai matando
as folhas de caderno e escreve
entre as pautas "você não
sabe o quanto bate/ nesta mão
meu coração" ou algo assim e nem
cogita que a paixão é um bolo
rubro de pentelhos atrás dos
quais escreves versos do brasil e
seus reversos com rimas óbvias
menino é melhor ficar ligeiro
livra o povo dos teus sentimentos
ninguém em jundiaí tem essa
panca toda desejada veda
a boca amarra os dedos coleta
as poucas boas sacadas para
o marketing que atesta nem
todo mundo é bom poeta.


.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

sem pai nem mãe

.
eu nunca pego o que preciso. leio,
passo a régua, pego a prova,
penso em fazer um ensaio
sobre a poesia dos anos 80, história,
a menina de óculos me olha e sorri
boca miúda crocs lilás vai pra lá
fora, faço o vigia noturno em desatenção
avaliativa, sopro os pés de ana cristina,
se me perguntarem, pareço até bom
professor e modelo masculino
pras crianças cativas


.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

frida kahlo para stefano

.
eu tinha visto dores
que não imaginava
poder ver com você

a partir de hoje
quero estar atento
a tudo que eu
puder ver com você


.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

papel amarelo

.
papel amarelo
te quero te quero
tão limpo e singelo
papel amarelo

se escrevo seu nome
não há quem atice
outra forma de fome
amarelo tigre

desenho o seu rosto
e não há quem perceba
outro traço de gosto
amarelo pêra

esboço uma história
e nem tudo é estorvo
só água de agora
amarelo novo

mas rasgo as palavras
comigo contendas
estrago a sua fala
- amarelo lembra


.

...