terça-feira, 28 de outubro de 2008

epílogo

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hoje
amanhã
quando calha
amor acaba
por morte
acidente
de navalha
amor acaba
ao rés dos
pontapés
na genitália
amor acaba
eterno
no inverno
o que valha
amor acaba


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

rumore

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eu comendo bolo pensando
surdo e você fazendo sopa e
você de vôo distante e você
poema em punho e você
minguando em junho e
você roendo a unha e você
que eu nem mais vejo e
careço e você que não me
acode e você que não acorda
quantos vocês cabem num verso?
(de você eu nem digo nada
que só de pensar
já fico triste)



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para ler ouvindo Raffaella Carra, a arte perdida das ancas soltas

sábado, 25 de outubro de 2008

Caprichos & esculachos

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minha mãe dizia:
Ferve, água!
Frita, ovo!
Pinga, pia!

E ficava na cozinha
dando ordens com as mãos
de barriga no fogão
sendo sempre meio-dia

Ferve, água!
Frita, ovo!
Pinga, pia!

A gente sujava tudo
Apanhava, esperneava
Mas nunca obedecia

Ferve, água!
Frita, ovo!
Pinga, pia!

Meu pai chegava à noite
e queria porque queria
a comida que não tinha
aí descia o cacete

"Ferve, água!
Frita, ovo!
Pinga, pia!"

Mas nada acontecia.


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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

prolixo

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1

o prazer da palavra descartável


2

poesia, é?


3

achei, assim, um desperdício!


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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

depilação

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eu vou ligar pra diplomacia
e dizer que eu não vou


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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Exercícios de civilidade

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1

o alexandre me ensinou a
falar que nem homem quando eu
chamei "jeanêêêêêêêê"
e ele disse "fala que nem homem"
e chamou "jeââââââne"


2

o arabemesmo
(esse era o nick de pegação)
mirou nu meu corpo gordo
falou de farinhas e açúcar
arrematando "por que
você faz isso com você?"


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terça-feira, 21 de outubro de 2008

"Só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor..."

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eu estava procurando versos bonitos
pra mandar pro meu marido em
reconciliação eu nunca acho logo
deixo mais um livro na mão


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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

poética

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ver incom pa jus
es vi incomple mi


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clichets um real

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a júlia quer que eu seja grande
júlia ó eu não vou longe
cê sabe a vida lá na china
pára no assalto do metrô clínicas

dois marmanjos cheira-cola
chegam junto e levam trinta
a gente pira e desencana
de ir pro sumaré pra ver a vista

cê sabe júlia a palavra
falta embaixo e pesa em cima
mas eu aqui ultimamente
me contento, ó, só com rima


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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

fica aí que vai ter bolo

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miguxinha são
paulo que me farei
são paulo que me
fará são paulo que
me falará angélica
angelical de minhas
ausências insólitas
sozinho ausente
vazio quebraremos a
calçada? tomaremos uísque?
são paulo fará isso por nós?
miguxa miguxinha
eu não falo mais nada
só de mim




(com a ana e a andrea esperando yakissoba)
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in my life (o ano é 2005)

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1

aquele lá eu achava bem bonito
e acabou ficando pra trás
como você que era bem presente
e hoje eu não te vejo mais
como o pudor que eu tinha da prosa
que hoje, olha só, quase não tenho mais



2

quando entre nós
havia um farniente
tranqüilo em
traje de
furor


.

no caminho eu te explico

.
na esquina da rua augusta

com dez reais a menos

a gente galga noite adentro

entre o quarto e a sarjeta



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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ameaço de chuva

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hoje foi o dia mais quente do ano em são paulo
com os termômetros chegando a 36,5º
segundo o site da folha de são paulo

em jundiaí, na minha infância,
saíamos eu meu pai e meu irmão para ir à padaria da rua de baixo
comprar sorvete. poucos anos depois começou
a moda das sorveterias por quilo e eu meu pai
minha mãe e meu irmão sempre íamos
a essas sorveterias tanto que meu pai
e minha mãe fizeram amizade com a dona de uma delas
que era do paraná e que depois voltou pra lá mas
abriram outras sorveterias e a gente sempre
ia

meu pai gostava muito de sorvete

quando ele morreu depois
de um tempo que ele morreu eu
lembro de me pegar pensando "ele nunca mais vai poder
tomar sorvete" e cada vez que eu penso algo
parecido com isso eu me dou conta de
como é forte isso de ele
ter morrido
(forte no sentido de

inalienável
intransitivo
desmantelador

.

) e hoje estava tão quente que eu
eu nem faço questão de sorvete mas
pus uma garrafa d'água no congelador e
tomei água bem gelada
outra coisa de que meu pai gostava.

engraçado (no sentido de
peculiar
particular
especular) que meu pai
fosse tão calorento e eu sempre
tenha pensado "caralho como ele é
frio"

meu pai sorvete
meu pai quente
meu pai gelo

.



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terça-feira, 14 de outubro de 2008

semana do saco vazio

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fabinho fabinho
a semana me engolindo
quarta-feira já vai indo
sexta até já tô sentindo
grande e grossa aproximando

não, fia, eu não tô brincando

falta um dia no calendário
um descanso do semanário
pras mona bater a cabeleira
se jogar na ferveção
falta loosho, pudê e sedussaum

bi

chama a poodle truqueira
ela senta e dá
o que precisar
pra gente poder anunciar
a betthy-feira



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sábado, 11 de outubro de 2008

familia y caramba

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yo no quiero mamá tengo
mi proprio ninar yo
no quiero padrecito tengo
cojones, carajito, yo
no quiero hermanos tengo
todas las manos yo
no quiero abuelita tengo
doce y marmita yo
no quiero ni abuelo tengo
memoria y vuelo yo
no quiero familia tengo
ya grand armadilha



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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

mictório

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o mictório traduz o
tamanho da tua rola
grossa de zíper e jeans

a porta se abre

entra um ruivo engomado
ruivos pêlos no braço
pentelhos? se aloja
e mija

o teu pau desembainhado

lavo o rosto pela enésima vez. o ruivo
se demora, sonso. abrem a porta de novo,
eu com sede do teu esporro,
o ruivo sai, o outro sai
na cabine minha mão tremendo
abraça o teu mastro

não vai encontrar minhas mucosas
mas bom, ah que bom que
é gozar entre essas portas



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domingo, 5 de outubro de 2008

auguri

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acordando de cu sujo
pela semana pândega
um segundo que fosse
com todo o corpo duro
(contenha-se a tosse)
convoco a elegância
para este domingo
filhote de cachorro
meu pai dormindo
sem cachimbo de ouro
terra ossos monturo
e um suor de cheiro doce
impregnado no pijama

o tesão no sofá
o tédio na cama

fumaça pelo ar
e a estrada tão longa
que faz até pensar
se o que eu quero mesmo
é voltar



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sábado, 4 de outubro de 2008

a arte perdida do romance epistolar

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ele me liga às nove da noite
ele me escreve de longe
me manda um email
me deixa um scrap
me chama junto, olha de lado, não chega perto

não, ninguém em especial

é só que essa poeira assentada faz que eu
te enxergue bem dentro dos poros da pele
mas não facilita em nada o meu trabalho

de sentir no dedo o aperto da bunda
e não ter preguiça de continuar.

quem quer que você seja
isso aqui não é pra você
é um egotripado, um amor inventado
à la ana c

nestes dias sem terapia nem
atitude rasgada, faço um diário simulado
mas não vou escrever nenhuma carta
não vai ter envelope selado
pra você, nem pra você, nem pra você



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(vai no número 01 aí do lado)

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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

a china é muito longe

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e tem um monte de chineses
tirando fotografia
das ruínas de quin shi huang di


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